Thursday, January 19, 2006

Camuflado em tons de vermelho


É preciso azar! Mais uma vez o gajo que insiste em não fazer parte de qualquer clube que o aceite como membro, é apanhado em flagrante delito num comício de comunas. Da primeira vez acabei numa foto do Avante, da segunda, dizem as más linguas (sem ofensa, J.), acabei nums fotogramas do telejornal ("Vi-te logo, o unico gajo de T-shirt em pleno inverno! Já agora, não era aquela que já tem uns 10 anos?"). Logo eu, que não vejo televisão há uns milénios. Lá se foi o meu tacho na CIA! Posso sempre alegar que fui como reporter fotográfico. Ou como agente infiltrado. O mercado está sempre aberto aos vira-casacas. Ou posso ir a um comício do Cavaco para compensar. Mas teria que fazer a barba primeiro, e comprar uns sapatinhos de vela. Não, a minha camuflagem natural funciona melhor em tons de vermelho :)

O que fui lá fazer? Fui acompanhar amigos, e tirar fotografias. Mas confesso: Desta vez acho que até voto nos gajos. Porquê? (não, não foi o comício que me convenceu)

Não voto no Soares, porque está velho demais, e é o Soares. Não voto no Cavaco porque gostava de saber quem é que o financiou; e gostava que ele respondesse às perguntas que lhe fazem antes de ser eleito e não depois (se as respostas são tão desagradáveis, podia sempre fazer como o Sócrates e mentir descaradamente), e porque alguém lhe devia explicar que não se está a candidatar a PM mas a PR. Não voto no Louçã porque é o Louçã. Não voto no Alegre porque seria Triste que tivesse que sujar a sua torre de marfim com a realidade da arena. Não voto no outro gajo porque não me lembro do nome dele (esta foi baixa, só estou a brincar). Não voto no gajo dos Ena Pá 2000 porque ele não se candidatou.:)

Voto no Jerónimo porque os comunistas até têm estado do meu lado em muitas das questões que me tocam (no Kosovo, no Iraque, na guerra das patentes, e em tantas outras guerras mais ou menos bélicas) e porque está na hora de dar algo de retorno. Voto nele também porque me irrita o bi-partidarismo e os "votos uteis". Posso discordar de algumas posições do Partido Comunista, especialmente teóricas (ok, M., não mencionarei o Feudalismo Coporativo :)), mas o voto vive da praxis. Votar num partido não é fazer parte dele, não é declarar fidelidade a um clube, não é concordar com ele em toda a linha. As eleições são uma guerra de comparência, em que declaramos ou não uma aliança temporária, que se quer sempre volátil, a uma das facções presentes no campo. Muitas vezes não achamos nenhuma que nos agrade, e é legítimo não tomar parte. Tem sido o meu caso desde há uns anos. Pesam-me as eleições, pesa-me escolher um ditador em vez de outro. Não tenho tido grande impressão dos vencedores, e sempre que votei neles perseguiu-me durante anos o sentimento de culpa. E por isso várias vezes não votei de todo, para mostrar o meu desagrado por toda a farsa democrática. Agora voto porque não votar parece-me um erro maior. E porque é hora de dizer aos senhores que se alternam no poder que, ou mudam, ou mudamos nós para algo de radicalmente diferente. Talvez se assustem. Ou talvez só acordem tarde demais. Tanto se me dá, desde que algo se altere.

3 comments:

Anonymous said...

Como dizia o Brecht, "um minuto antes do fim verão que já estão perdidos, que nada os salvará". Assim é. Mas é preciso lutar, lutar muito. Avançar e recuar. Ganhar e perder. Mas persistir e resistir. O sonho justifica.

Como dizia o Álvaro: «Sonhamos com um mundo melhor onde uns não vivam da dor de outros homens,
onde não se matem crianças com metralhadoras, onde o ar se respire com liberdade. É esse o sonho que nos dá força para lutar e para sofrer, para nos afirmarmos felizes na nossa dura vida, mesmo quando perdemos muito do que nos é mais querido»

Abração e vemo-nos nas barricas desta luta, que é permanente (porque não o serão também algumas alianças?)

Foto magnífica de um momento inesquecível e emocionante...

António Araújo said...

Ola Julius :)

>(porque não o serão também >algumas alianças?)

Falo apenas pessoalmente. Sou sempre descritivo - de mim próprio - nunca prescritivo ( em relação aos demais ). Todo este blog é um grande microscopio apontado para dentro...

E algumas alianças são também para mim inquebráveis. Mas no meu caso nunca as que são feitas com instituições. Só algumas, que se fazem com pessoas, uma a uma, ou com conceitos, um a um.

Anonymous said...

Má lingua!??????